Flávia: padrão internacional de qualidade

Nascida em Juiz de Fora-MG, mas criada em uma pequena cidade próxima chamada Mar de Espanha, uma das atuais goleiras do Real Brasília F. C. e remanescente do primeiro ano de vida do clube, Flávia Guedes Costa Rosado começou a jogar futebol quando tinha nove anos, sempre com o apoio da família, principalmente de sua mãe. Como muitas meninas, os seus primeiros passos na bola foram dados em escolinhas, onde era a única em meio aos “marmanjos”.

Assim foi até os 14 anos, na pequena Mar de Espanha. Durante esse período, participava de qualquer atividade esportiva que surgisse na escola. “Sempre me destaquei muito no handebol também. Nessa época, principalmente quando eu jogava futebol com meninos, eu sofri muito preconceito. Às vezes eu escutava coisas horríveis quando eu estava na quadra. Eu, como criança, não entendia o porquê daquilo”, conta Flávia.

Ela continua explicitando o que, infelizmente, ainda é corriqueiro na modalidade. “Muitas vezes eu cheguei em casa triste, e dizia à minha mãe que não queria mais fazer aquilo, porque tinha um monte de gente falando que não era coisa de menina, e me chamando de vários nomes. Eu nunca vou esquecer de uma das conversas. Ela me disse: ‘minha filha as pessoas ainda não entendem o que você está fazendo, não ligue. Todas as vezes que você escutar alguém te xingando, faça um gol para elas e comemore’. Foi um dos conselhos mais marcantes que já recebi”, lembra.

Ao ingressar no ensino médio, retornou para Juiz de Fora com a família. Foi daí que Flávia fez um teste em um time feminino, o Benfica. Neste período, recebeu uma bolsa de estudos em um dos melhores colégios da cidade, o Vianna Junior. “Eu acabei tendo mais oportunidades nesse time da escola. Eu jogava na linha, na minha categoria e na mais velha. Em 2009, o meu time foi campeão invicto da Copa Bahamas, além do Intercolegial infantil e juvenil, onde recebi troféu de melhor jogadora nas duas categorias”, recorda orgulhosa.

No intuito de alçar vôos mais altos, no final de 2010 a até então atleta de linha se arriscou na peneira do Palmeiras-SP, como meio-campo. “Eu lembro que foi um dia de temporal, e muito frio. Tivemos que esperar horas para voltar ao campo, por causa da tempestade. Mas no final de tudo, recebi a notícia de que eu fui escolhida entre as 25 para fazer parte do elenco”. Uma mudança radical para toda a família, que a acompanhou na nova empreitada, em uma nova cidade.

Certo dia, após cerca de três meses na capital paulista, em um treino, ainda na base, Flávia foi surpreendida. Não havia goleira no treino e as jogadoras de linha estavam revezando no gol. “Quando foi minha vez, não deixei passar nada. Fiz várias defesas, mesmo sem saber o que estava fazendo (risos). O treinador Marcelo Frigério e o preparador de goleiras Cláudio me propuseram tentar treinar como goleira. Depois daquele dia passei a ser a titular do time sub17 do Palmeiras na posição”, conta.

Logo em seguida já foi convocada para as disputas de duas importantes competições: a Taca São Paulo sub-17 e a Copa Mulher (time principal), onde foi vice-campeã em ambas. No entanto, ao término daquela temporada, veio a triste notícia, o Palmeiras anunciou que não teria mais o futebol feminino.

Porém, como havia realizado excelente partida contra o Centro Olímpico-SP, inclusive com a defesa de pênalti na finalíssima da Taça São Paulo, os treinadores do clube entraram em contato com seus pais, para que a atleta passasse a integrar o plantel do sub-17 em 2011. Assim ocorreu. Flávia, inclusive, enaltece um dos profissionais da agremiação à época. “Foi onde eu aprendi tudo o que eu sei sobre ser goleira, com meu preparador Alessandro da Cruz (Alê)”. Por lá conquistou diversos títulos individuais e como equipe.

Daí veio outro momento complicado, em abril de 2011. A goleira sofreu uma pancada no nariz durante um treino, teve um desvio de septo, que até os dias atuais não foi curado por completo, mesmo depois de duas cirurgias. Ainda assim continuou jogando. Em 2012, permaneceu no Centro Olímpico, mas como a quarta opção do time principal. “Tive a chance de trabalhar com grandes nomes do futebol como Debinha, Érika, Alline Calandrini, Rosana, Vivi Holzel, Thaís Picarte, Gabi Zanotti, Maurine, e muitas outras. Pude participar de alguns jogos importantes no Campeonato Paulista, que fomos vice-campeãs, e na Copa Mulher, campeãs na oportunidade”, orgulha-se Flávia.

Veio 2013 e o contrato com o São José-SP, um dos clubes mais tradicionais da modalidade no país. Como parte do upgrade na carreira, Flávia já fazia parte da equipe sub-19 e principal. Durante esse período, teve a chance de ser convocada para os treinos da Seleção Brasileira sub-20. Pela nova casa, foi campeã da Copa do Brasil Feminina na temporada supracitada.

Em agosto do mesmo ano embarcou para os Estados Unidos, com as tarefas de jogar e estudar pelo Columbia College, onde permaneceu até maio de 2017. Durante os quatro anos na “Terra do Tio Sam” acumulou diversos prêmios. Dentre eles os que mais se orgulha: 5º lugar em gols sofridos na NAIA (Women’s Soccer National Tournament All-tournament Team – Campeonato Nacional), com média 0.460 por jogo. No verão americano de 2014, teve a oportunidade de trabalhar na TetraBrazil, em Minnesota, como treinadora de futebol. “Foi algo que eu nunca tinha feito, ou pensado em fazer, mas que com certeza mudou a minha vida”, explicitou Flávia.

No final de 2017, quando era treinadora sub-10, 11 e 14 feminino do time Euro F. C., decidiu voltar para casa sem terminar a faculdade, devido alguns problemas particulares. Um ano depois recebeu uma bolsa de 100% para ser assistente-técnica e treinadora de goleiras na Salem University, em West Virginia, onde graduou-se em Business Administration – Sports Management, em abril de 2019.

Após esse período, voltou para o Brasil, sem muita perspectiva do que iria fazer da vida. Até que em agosto, ainda de 2019, assinou contrato com a agência Joga10 Sports e eles a ofereceram para jogar no Real Brasília, onde foi campeã invicta do Campeonato Candango e atua até hoje, aguardando passar o período da pandemia do Covid-19 e retomar a disputa do Campeonato Brasileiro da Série A2, onde chegou a estrear, com sua companheiras de clube, contra o Botafogo-RJ e empataram em 0 x 0 for a de casa.

O momento em que vive na carreira faz Flávia voltar a sonhar alto na profissão de atleta. De acordo com a jogadora, o que encontrou no time atual a fez retomar o prazer de jogar. “Logo na minha chegada vi algo surreal, superou todas as minhas expectativas. O clube desde o primeiro dia fez eu me sentir em casa e me sentir parte de uma grande família. Isso sem falar da mega estrutura que nos oferecem”, concluiu.

CLUBES NA CARREIRA

Benfica-MG

Palmeiras-SP

Centro Olímpico-SP

São José-SP

Columbia college-EUA

Real Brasília

PRINCIPAIS TÍTULOS

Taça São Paulo sub-17 – 2011 (Centro Olímpico)

Virada Esportiva – 2011 (Centro Olímpico)

Copa Mulher – 2012 (Centro Olímpico)

Copa do Brasil – 2013 (São José)

American Midwest Conference – 2013

American Midwest Conference Regular Season – 2014 e 2015

American Midwest Conference Tournament – 2015 e 2016

First-team All Conference Team Award – 2015

American Midwest Co-regular Season – 2016

Campeonato Candango – 2019 (Real Brasília) invicto